sábado, 29 de outubro de 2011

PASTORES E SEUS ESGOTAMENTOS FÍSICOS E MENTAIS


 Por: Pr. Alessandro Francisco da Silva


A atual conjuntura tem exigido do pastor, tomadas de decisões que em outras épocas não eram cogitadas. A cada dia fica mais comum  em nossas igrejas termos que lidar com assuntos como: eutanásia, tratamento com células tronco, inseminação artificial, aconselhamento de casal com filhos siameses, violência, desigualdade social e outros.
O pastor desse mundo pós- moderno além de lidar com as questões já mencionadas e outras não listadas, ainda tem que desenvolver diversas habilidades. Para poder corresponder com as necessidades do homem moderno, segundo Donald Price em seu livro Conflitos e Questões Polêmicas na Igreja, a sociedade e igreja cobra do  pastor que ele tenha:  mente erudita, coração de criança e pele de rinoceronte.

Amados sabemos que tais exigências não são possíveis, pois ninguém pode dar conta de tudo o tempo todo. Os desafios da atualidade têm gerado nos pastores desgastes que por sua vez podem ser somatizados trazendo consequências pessoais, familiares, financeiras, e para o reino. Tenho observado que existe um crescente número de pastores que vem desenvolvendo problemas de saúde devido o desgaste como cuidador ou demonstram a síndrome de Burnout ( descoberta na década de 70).
Burnout é uma expressão inglesa ("to burn out" que significa queimar por completo).  É um distúrbio psíquico de caráter depressivo, caracterizado pelo esgotamento físico e mental. O esgotamento está relacionado com o estresse causado pelo "trabalho como cuidador".
O ofício pastoral nada mais é que cuidar (espiritualmente, fisicamente etc.),  segundo Champlim a palavra pastor vem do hebraico que significa cuidar dos rebanhos. O portador da síndrome de Burnout se destaca pela  dedicação exagerada à atividade que exerce, no nosso caso o pastorado. O desejo de ser sempre melhor, ter altos desempenhos, o desejo de valorização pessoal faz com que a vida de cuidador (pastor) se torne uma obstinação e compulsão, levando a um desgaste emocional e físico.

Fisiopatologia do estresse: Em condições de estresse crônico, várias substâncias como cortisol e outros  são  lançados na corrente sanguínea, causando desequilíbrio. A maioria dos óbitos é causada por doenças no sistema cardiovascular e um dos fatores é o estresse.

Alguns sintomas dessa síndrome são:

Sintomas psicossomáticos: enxaqueca, dores musculares ou cervicais, gastrite, úlcera, diarréias, palpitações, hipertensão, suspensão do ciclo menstrual (na mulher), impotência (nos homens), baixo libido tanto nas mulheres quanto nos homens. 

Sintomas comportamentais: violência, drogadição medicamentosa, incapacidade de relaxar, mudanças abruptas de humor.
Comportamento de risco (suicídio: conversas que dizem que a vida não vale à pena e questionam: porque Judas não foi salvo? Tal conversa tem como alvo defender o suicídio).

Sintomas emocionais: alto nível de impaciência, distanciamento afetivo como forma de proteção do ego, freqüentes conflitos interpessoais, sentimentos de solidão, irritabilidade, ansiedade, baixa tolerância a frustração, dificuldade de concentração, impotência, declínio no desempenho profissional (pastorado), apatia e negação.
Essa síndrome geralmente é desenvolvida em pessoas que tiveram alto grau de esforço físico ou mental e tiveram ou não pequenos intervalos de descanso para se recuperarem fisicamente.

O que fazer?
 
Precisamos mudar nossa cultura, pois se não cuidarmos de nós mesmos como teremos condições de cuidar do próximo,... "Ame o próximo como a ti mesmo." - Marcos 12:31.
Muitas vezes dizemos para os membros da igreja buscar ajuda de um profissional e nos mesmos ignoramos isso. Os pensamentos geram os comportamentos, por isso que é de suma importância mudar tais fatores psíquicos e enxergar que não precisamos ser sempre 100%. Existe uma máxima em saúde mental: atrás de todo excesso se esconde uma doença. No nosso caso, pastores,  muitas vezes nos esquecemos que o próprio Deus teve seu momento de descanso, ele é o promotor dessa idéia, o descanso é fundamental para renovar nossas energias e nos deixa abertos para novas idéias e inovações. Com as energias renovadas  ficamos  mais dinâmicos. 

Viver sem estresse  é impossível, mas podemos minimizá-lo de algumas formas:

1) Tirar férias quando possível: O hábito de recarga das energias é importante para todos os seres vivos, mas algumas vezes deixamos de lado e alguns ficam vários anos sem investir em si através de alguns dias de férias. E outros, ainda quando o fazem querem levar membros na sua viagem de férias. Essa atitude por mais nobre que seja tira a privacidade da família pastoral.

2) Investir algum tempo à atividades que lhe proporcionem prazer: Muitas vezes parece quase pecado falar na igreja que temos um Hobby, pois falar de algo que nos dá prazer além de ir à igreja e ler a  palavra "ainda" é um tabu. Não podemos esquecer que o ministro e sua família precisam de algum tempo  de lazer. Pois esse tempo produzirá descanso mental e uma renovação mental espiritual. 

3) Evitar sedentarismo. O  sedentarismo tem sido a causa de doenças como: obesidade, diabetes, problemas cardiovascular, entre outros. A atividade física proporciona ao organismo uma ativação de substâncias que estimulam a circulação sanguínea, causando bem estar físico e mental. 

4) Evitar um ministério pautado na produção quantitativa: Somos frutos de uma sociedade competidora, ávida pelo sucesso e muitas vezes entramos nesta correria em busca de produção. Não podemos esquecer que a obra não é nossa e sim de Deus, e no demais nem sempre podemos ter como crescimento somente números, existem outros crescimentos além do quantitativo. Queremos produzir  para o reino e não viver uma vida de apenas ativismo "sacrificando" a nós mesmo, família e igreja.

Que Deus nos ajude a fazer uma bela obra para ele, e se possível com o mínimo de estresse. 

Em Cristo,
Edmilson Santos

Reprodução Autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e o site http://www.institutojetro.com/

terça-feira, 25 de outubro de 2011

A IGREJA E SEUS DESAFIOS



Esta é uma época onde muitas pessoas divinizam a vontade do homem e humanizam Deus. A pós modernidade faz com que muitos destronem Deus, como autoridade absoluta, e entronizem ao próprio homem.

1) O desafio do antropocentrismo
Somos desafiados por um cristianismo centrado no homem, onde Deus se transforma num instrumento secundário que trabalha para realizar todos os gostos e vontades soberanas do homem. Muitos se acham no direito de viver determinando. É comum ouvirmos frases assim: “Eu determino, ou eu decreto…”. Muitos sentem-se como “Senhores ou senhoras do destino”.
Como lideres somos desafiados a falar da soberania Deus. Era isto que Paulo anunciava aos filipenses no capitulo 2:9-11: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”
Nosso grande desafio é declarar a esta geração que Deus permanece em seu trono, e que Ele deseja ser entronizado dentro dos nossos corações. 

2) O desafio do relativismo

O relativismo tem sua gênese no pensamento de Hegel, filosofo alemão. Em sua dialética Hegel ensinava que “….todo certo tem um pouco de errado, e todo errado tem um pouco de certo”. Essa forma de pensar foi evoluindo e chegou ao que chamamos de relativismo.
Segundo o relativismo, não há verdades absolutas, e assim, o padrão do certo ou errado esta vinculado a consciência de cada um. Influenciados pelo relativismo muitas pessoas passam a relativizar as verdades do cristianismo, mas contraditoriamente tornam absolutas muitas das suas próprias convicções.
O relativismo nos desafia a dizer a esta geração que Jesus é a sua verdade absoluta. Foi Ele quem disse em João 14:6: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.”

3) O desafio do materialismo

O materialismo é uma filosofia que superestima o material, o físico e o palpável em detrimento do espiritual e do eterno. Os materialistas julgam o mundo espiritual como abstrato, secundário e como algo sem relevância, e acreditam que a essência da vida esta em acumular ou TER.
O materialismo estimula as pessoas a VIVEREM PARA TER. Porem, a ênfase do cristianismo bíblico esta em VIVER PARA SER. Somos desafiados a viver para sermos santos, luz do mundo e sal da terra em meio a uma geração que vive para ter.
Jesus encontrou pessoas materialistas, como o jovem rico, que preferiu suas próprias riquezas em vez das riquezas do reino. Mas ele também encontrou pessoas como Zaqueu, que foram capazes de trocar o materialismo pelos valores do reino.
O materialismo tem influenciado muitos discursos religiosos, fazendo com que muitas pessoas busquem em Deus recompensas meramente materiais.
Vivemos hoje testemunhando o auge da teologia triunfalista e da teologia da prosperidade. Estamos vendo adesões em massa, e provavelmente poucas conversões. Temos visto que muitos estão em busca das bênçãos materiais de Deus e não de Deus.
Somos desafiados pelo materialismo a anunciar para esta geração que seu estilo de VIVER PARA TER, não lhe trará satisfação interior. Esta geração necessita saber através de nós que sua sede e sua busca só será satisfeita quando ela aprender a desejar o Senhor como a corça suspira pelas águas. É esta sede que o salmista tem em seu coração no salmo 42: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?”
Somente a sede por Deus nos satisfaz, e não a sede por suas bênçãos.

Conclusão

O antropocentrismo, o relativismo e o materialismo são alguns dos grandes gigantes que nos desafiam nesta geração.
Porem, encontramos na história bíblica, o exemplo de que um grande gigante já foi derrubado com apenas uma pedrinha. Precisamos crer no poder do evangelho, pois esta é a nossa “pedrinha” para derrubar os gigantes ideológicos desta geração.
Como Davi se dispôs para enfrentar Golias, que nós sejamos capazes de nos dispor para servir ao Senhor da Seara. Ele esta conosco e nos ajudará a vencer os desafios desta época. 

Em Cristo,
Edmilson Santos

sábado, 22 de outubro de 2011

Quem cuidará das ovelhas em nossa ausência


Por: Enoque Caló

Base Bíblica: 1º Samuel 17.20
"Davi, pois, no dia seguinte, se levantou de madrugada, deixou as ovelhas com um guarda, e carregou-se e partiu, como Jessé lhe ordenara".
Como é bom galgar novos ambientes, novas funções e no caso de Davi que era um simples "cuidador" de ovelhas acredito que ele ficou super motivado em poder pisar novos lugares.
Seu pai o chama e pede para ele fazer um serviço de "office boy", levar alimentos para seus irmãos e para os oficiais do exército.  Voltando ao capitulo 16, podemos lembrar do Davi que fora convidado pelo servo para comparecer a Mesa de Jessé para que o Profeta Samuel completasse sua missão.
Fico feliz pela atitude de Davi, pois no capítulo 17 ele já havia recebido a unção de rei e como pode uma pessoa com a unção de rei, com a confirmação dada pelo próprio profeta diante da sua família, fazer serviço de office boy?
No ofício do dia-a-dia de Davi me chama atenção o cuidado que ele tinha com as ovelhas do seu pai, portanto fazer mais um favor para seu pai não ia adicionar nada de extravagante ou difícil, pois sempre cuidou das ovelhas e o fazia com toda responsabilidade.
Em convites diferentes do ofício que exercermos, corremos o risco de querer não voltar mais a fazer as coisas simples que fazíamos, pois pode demonstrar um retrocesso, uma recaída.
Interessante que no Cap. 16, Davi tinha sido indicado para ser músico do rei e o pequeno pastor de ovelhas agora se apresenta como músico da realeza. Tem acesso ao palácio. Sabe o que significa você sair do campo, dos estrumes de ovelhas para pisar nos mármores do palácio? A vida de Davi foi uma vida de convites. Convites para comparecer à mesa a fim de ser ungido a rei, convite para tocar no palácio, convite para levar "marmitex" para seus irmãos na guerra.
Se observarmos no Cap. 16 Davi cumpria seu ofício no palácio e voltava para sua velha atividade: cuidar de ovelhas. Esta era sua função e ele a exercia com propriedade e responsabilidade. No verso 20 do Cap. 17, percebo o cuidado, a destreza que Davi tinha com as ovelhas de seu pai, quando recebeu o convite de pisar lugares novos, de estar diante de novos desafios, porém não esqueceu de deixar suas ovelhas sobre o cuidado de outro pastor.
Os princípios que aprendo neste versículo é que devemos primeiro saber cuidar de nossas ovelhas, de ter responsabilidade por elas e mesmo que recebamos um convite para aumentar nossos termos, para conhecer novos lugares e desafios não podemos em hipótese alguma esquecer das nossas responsabilidades primárias.
Eu e você estamos preparados para novos desafios? Já preparamos alguém? Já discipulamos alguém para assumir as ovelhas em nossa ausência?
Lembro-me de uma conversa com um pastor de uma determinada igreja com centenas de membros, quando lhe perguntei se ele poderia fazer uma viagem de 30 ou 60 dias com sua família e a resposta foi: Lógico que não, você tá maluco? Quando eu voltar minha igreja estará dispersa.
Isto prova que temos dificuldade de preparar pessoas, de fazer discípulos para dar continuidade em nosso ministério e aprendo com Davi que colocar as ovelhas sobre a proteção de outra pessoa é a demonstração que estou preparado para vivenciar novos desafios.

Em Cristo,
Edmilson Santos

Reprodução autorizada desde que mantida a integridade dos textos, mencionado o autor e a fonte como: http://www.institutojetro.com/

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O PREÇO DO DISCIPULADO

"E aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lc14: 27). 

Essa é uma das grandes particularidades da fé cristã. Na verdade, ser cristão não é apenas seguir algumas idéias religiosas ou tornar-se fiel de uma determinada igreja. Ser cristão é seguir uma pessoa, isto é, seguir a Jesus Cristo, o Filho de Deus. O cristão está disposto a fazer o que Cristo lhe ordena. Cristo é o Salvador daquele que crer, mas também deve ser o Senhor (chefe soberano, dono absoluto, proprietário) de sua vida.

Muitas pessoas foram atraídas a Cristo por causa de sua Palavra, de seus milagres, de seu poder, dos pães e peixes que multiplicou e distribuiu, mas poucos foram os que tiveram a disposição de renunciar a tudo por amor a Cristo, como fez Pedro: "Eis que nós deixamos tudo e te seguimos" (Lc 18:28).

O PREÇO DO MINISTÉRIO CRISTÃO NA PERSPECTIVA DE JESUS

Diferentemente de muitos pregadores da atualidade, Jesus jamais falou que segui-lo seria algo confortável e isento de sacrifícios. Ele jamais prometeu que aqueles que o seguissem seriam cercados de prosperidade material e saúde física. Esta não era a mensagem
de Jesus. Ao contrário, ele fazia questão de ressaltar que ser um crente traria consigo um custo que deveria ser calculado por aqueles que estavam se voluntariando a segui-lo (Lc 14.25-33). Jesus não estava satisfeito de as pessoas o seguirem pelas razões erradas, sem se darem conta do que realmente estavam fazendo e de como aquilo teria repercussões em sua vida pessoal e social.
Vejamos alguns aspectos do que significava o discipulado para Jesus:

1. Seguir o Senhor Jesus o requer submissão (Mt 4.19; 10.24,25; Jo 15.14). Não existe a opção Jesus como Salvador ou como Senhor. As duas coisas estão unidas e são inseparáveis. Os herdeiros do reino dos céus são conhecidos pela submissão ao senhorio de Deus (Mt 7.21). Vidas sem compromisso não são a marca daqueles que nasceram de novo.

2. Seguir o Senhor Jesus Implica discipulado (Mt 28.19,20; Lc 6.40) . Jesus não estava interessado em atrair milhares de espectadores. Ele não entretinha o seu auditório para mantê-lo confortável e animado. Jesus tinha em vista que aquele que o seguisse tivesse um coração de discípulo, isto é, desejo de aprender, sede pela Palavra, paixão por Deus e pelo seu reino e anelo por ser identificado com Cristo em palavras e ações.

3. Seguir o Senhor Jesus requer renúncia pessoal e priorização do reino de Deus em sua vida. "Em seguida dizia a todos: Se alguém quer vir após mim negue-se a si mesmo" (Lc 9.23a). Negar-se a si mesmo significa reconstruir toda a vida e os projetos pessoais em torno da pessoa e dos interesses de Jesus e do seu
reino.

4. Seguir o Senhor Jesus requer disposição para o sacrifício. "...tome cada dia a sua cruz e siga-me' (Le 9.23b). Tomar a cruz significa estar disposto a pagar o preço por estar seguindo a Cristo; o preço da incompreensão, da zombaria e da perseguição por amor a Cristo. A cruz era instrumento de morte. Jesus nos convida a crucificarmos o EU e a levarmos sobre os nossos ombros a sua cruz, sabendo que muitas vezes o mundo não nos entenderá e nos criticará. A isso devemos responder vivendo uma vida marcada pela prática do bem, a fim de que as nossas boas obras sejam um testemunho da alegria de servir a Jesus (Mt 5.16; 1Pe 2.11,12).

5. Seguir o Senhor Jesus trará, no tempo certo, a sua recompensa. Hebreus 12.2 nos informa que Jesus suportou a cruz por causa da alegria da vitória que lhe estava assegurada. O crente em Cristo pode seguir a Cristo na certeza de que nada daquilo que ele fizer pelo seu Senhor será em vão (lCo 3.11-15; 1Co 15.58).

Em Cristo,
Edmilson Santos

domingo, 16 de outubro de 2011

"TIVE FOME E ME DESTE DE COMER (PARTE 2)


A IGREJA E O SER HUMANO NECESSITADO

Seguindo o exemplo de Jesus, a igreja também deve procurar viver um cristianismo preocupado com o sofrimento e as necessidades materiais humanas. Tocados pelo exemplo de Jesus, precisamos viver na prática o mandamento de amar ao próximo exemplificado pelo exemplo do nosso Senhor.

1. Precisamos estar atentos às pessoas necessitadas entre nós. Por mais rica que seja uma igreja, certamente haverá em sua membresia pessoas necessitadas. Não podemos fazer vistas grossas com relação aos nossos irmãos e irmãs que se assentam conosco para cultuar e que podem estar vivendo situações de fome,
miséria, pobreza de vestuário, precariedade de habitação ou desemprego.

2. Tomemos a iniciativa de suprir as necessidades das pessoas. Não esperemos que as pessoas muito necessitadas venham a nós pedindo uma ajuda. Se forem identificadas necessidades reais, então sejamos os primeiros a ajudar, garantindo o anonimato de quem recebe a nossa ajuda.

3. Não deixemos de fazer a nossa parte pessoal, desculpando-nos porque a nossa igreja tem um setor de ação social ou beneficência. A ajuda comunitária não nos isenta de sermos pessoalmente misericordiosos e solidários (Mt 25.34-40). Façamos muito enquanto igrejas, mas, também, façamos muito enquanto indivíduos.

4. Ajudemos sem recriminar o outro pelos motivos que causaram a sua necessidade. Ajudemos sem acusar, sem lançar em rosto a nossa ajuda.

5. "Dê o peixe e, se possível, também ensine a pescar". Ajude materialmente, mas se puder fazer algo mais representativo pela pessoa necessitada, faça-o como, por exemplo, ajudando-a a conseguir um emprego.

6. Ajude sem esperar nada em troca. Muitas vezes nos decepcionamos porque queremos ajudar e esperar o reconhecimento das pessoas. Lembremo-nos deque a gratidão não é a tendência natural do ser humano, mas, mesmo assim, vale a pena socorrer os necessitados (Lc 7.12-19). Também está errado ajudar quem precisa e cobrar dele como resposta a sua conversão.
Muitas igrejas fazem ação social pensando assim. Mas, tornar-se crente não é resultado de barganha ou caridade. A conversão é obra do Espírito Santo no coração do pecador. Se isso acontecer espontaneamente na vida da pessoa ajudada, então, "glória a Deus!"; se não, continuemos a ajudar mesmo assim.

CONCLUSÃO

Deixei isto para o final: Não esperemos apenas que Deus transforme a realidade material do mundo; façamos a nossa parte. Não vote em quem não tem compromisso com os pobres. Não eleja políticos que se envolveram em corrupção ou escândalos financeiros. Não venda ou troque o seu voto por objetos ou cestas básicas. Não apoie pessoas que vivem à custa da pobreza e miséria alheias. Como cristãos, vivamos uma vida sem esbanjamento nem ostentação. O exagero em termos de posses não combina com o filho de Deus. Viva dignamente, mas não faraonicamente. Use o seu dinheiro para socorrer e abençoar. Pense em quantas crianças pobres você pode ajudar comprando uma roupa nova ou material escolar; em quantos idosos carentes você poderia socorrer para diminuir a fome e as doenças por falta de remédios; em quantas crianças de rua poderiam ter um futuro menos sombrio se você as ajudasse com pelo menos um pouco. Não se desculpe, faça a sua parte para transformar o mundo e minorar a dor e o sofrimento daqueles que o cercam (Mt 5.16).

Em Cristo,
Edmilson Santos

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"TIVE FOME E ME DESTE DE COMER (PARTE 1)

A pessoa precisa ser encarada como imagem e semelhança de Deus o que não acontece no mundo frio e individualista em que vivemos, onde as pessoas são elementos descartáveis. Precisamos reaprender o valor da pessoa e vê-Ia do mesmo modo em que é tratada por Deus na Bíblia, lembrando-nos de que o maior mandamento não é apenas "Amarás a Deus de todo o teu coração", mas, conforme Jesus afirmou, inclui conjuntamente "Amarás o próximo como a ti mesmo" (Mt 22.38-40). Esse ensinamento já estava presente no AT em diversas passagens, embora não com a elaboração que Jesus lhe deu (Lv 19.18; Dt 19.11-13; Pv 3.28,29; 11.9).

O SER HUMANO: UM SER-COM-OS-OUTROS
O relato bíblico da criação mostra que o projeto divino era perfeito, não havia falhas: "E viu Deus tudo quanto fizer e eis que era muito bom" (Gn 1.31). Notamos, entretanto, em Gênesis 2.18-24, que o homem não permaneceu sozinho na criação. O relato da formação da mulher não ensina apenas que o homem precisa de alguém do sexo feminino ao seu lado, mas esse relato quer nos mostrar também que ninguém foi feito para viver em solidão. O ser humano é um ser que se relaciona com os outros e que, sem os outros, é incompleto.

O SER HUMANO E O SEU VALOR
O cristianismo ressalta valor do ser humano não só para Deus como também para Os demais seres humanos. Por ser "imagem e semelhança de Deus” a alma (pessoa) humana vale mais do que qualquer bem ou posses (Mc 8.36). Os seres humanos são tão preciosos para Deus que Jesus veio ao mundo para salvá-los (Jo 3.16,17). Por isso, a sociedade, numa perspectiva cristã, deve ser marcada pelos princípios da justiça e da solidariedade, viabilizando o respeito à dignidade do ser humano e possibilitando o seu desenvolvimento integral. O ideal cristão é incompatível com a escravidão e a opressão, literal ou figurada, em quaisquer esferas da existência humana. Nesse aspecto, o cristianismo posiciona-se pelo respeito ao homem criado à imagem e semelhança de Deus. Por causa do valor do ser humano, o cristianismo não pode concordar com nenhum tipo de injustiça social. O oprimido é roubado dos seus direitos fundamentais enquanto ser humano valorizado por Deus, e qualquer ponto de vista que avilte o próximo está diretamente em oposição a Deus e é essencialmente diabólico.

JESUS E O SER HUMANO NECESSITADO
Jesus procurava aliar as dimensões vertical e horizontal nos relacionamentos. O amor a Deus implicaria amor ao próximo, e o amor ao próximo estaria fundamentado na relação pessoal com Deus. O ensino de Jesus enfoca o respeito ao ser humano como valor acima das posses materiais ou das estruturas religiosas e sociais. Falando acerca do cuidado de Deus pelo ser humano, ele diz: "Mas até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois mais valeis vós do que muitos passarinhos (..) Considerai os corvos, que não semeiam nem ceifam; não têm despensa nem celeiro; contudo, Deus os alimenta. Quanto mais não valeis vós do que as aves!' (Lc 12.7,24). E quando astuciosamente testado pelos fariseus quanto à cura no dia de sábado, Jesus declarou o valor do ser humano acima das instituições e tradições religiosas: "(...) e eles, para poderem acusar a Jesus, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados? E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma só ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não há de lançar mão dela, e tirá-Ia? Ora, quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é lícito fizer bem nos sábados" (Mt 12.10-12).

 Na verdade, para Jesus, as próprias necessidades básicas do ser humano, como a alimentação, eram consideradas superiores e mais importantes do que qualquer preservação de tradições ritualísticas: "Ele, porém, lhes disse: Acaso não lestes o que fez Davi, quando teve fome, ele e seus companheiros? Como entrou na casa de Deus, e como eles comeram os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem a seus companheiros, mas somente aos sacerdotes?" (Mt 12.3,4).

 Como os evangelistas deixam claro, Jesus via a relação entre as pessoas como extensão da relação com Deus; por isso, a nossa atitude deve ser de um amor comprometido e engajado. Isto está evidenciado na parábola do "Bom samaritano" (Lc 10.25-37), que foi contada para responder à pergunta acerca de quem deveríamos considerar como o nosso próximo, ao qual também deveríamos amar. Assim, Jesus propõe a participação de cada pessoa na construção de um mundo mais justo e equitativo. Para Jesus, a valorização e o envolvimento com o outro devem suplantar as discriminações e os preconceitos de qualquer tipo. Um cristianismo que não move um dedo sequer para minimizar a dor e a fome do mundo nem demonstra se importar com elas não é verdadeiramente o cristianismo de Jesus. 

Em Cristo,
Edmilson Santos