Que é Ensinar?
Ensinar
não é apenas narrar fatos, porque o aluno não compreende tudo que ouve, e neste
caso seria difícil mantê-lo atento; não é a repetição de frases decoradas e
recitadas como uma "ladainha".
Ensinar pode ser definido assim: é despertar a mente do aluno para captar e
reter a verdade. É mais que partilhar com outros as verdades que possuímos; é
motivá-los a pensar por si mesmos, de tal modo que cheguem aos fatos. Para
conseguir o propósito exposto nesta definição, é necessário seguir quatro
princípios que são o verdadeiro fundamento do ensino, e que abarcam todas as
regras relativas ao ensino. Teremos neste estudo a explicação destas regras de
uma maneira simples e clara. Em outras palavras, aquele que deseja ensinar
corretamente, com eficácia, não só deve fixar-se nestes quatro princípios, mas
deve também colocá-los em prática.
l. O professor tem que fazer com que o
aluno pense por si mesmo
É
necessário que o aluno use suas ideias e palavras, chegando a conclusões
próprias; que aprenda a lição por si mesmo, descobrindo
por si as verdades que você quer ensinar.
Que quer dizer a palavra "educar"?
Literalmente quer dizer "tirar sutilmente" por meio de perguntas ou
sugestões o que está na mente do aluno, e conduzi-lo às atividades de que ele é
capaz.
Em outras palavras, a educação não fabrica a máquina; apenas a faz funcionar. O
professor mais competente é o que capta a atenção do aluno, desperta sua
inteligência, engendra o interesse e o desejo de aprender; e então, coloca
diante dele o material com o qual possa formar conclusões próprias.
Ensinar
não é encher a mente de conhecimento, como se enchia antigamente um fogão a
carvão, mas aproveitar as matérias-primas através de perguntas, sugestões e ideias
oportunas; em outras palavras, tenta-se fazer funcionar a máquina da
inteligência para que dê o produto ou resultado final; o pensamento bem
racionalizado.
"Aprender é ensinar-se a si
mesmo." Um professor experimentado escreve:
"Devemos permitir que este instinto trabalhe livremente nos alunos."
Não descubra você a verdade; é melhor ocultá-la um pouco e guiá-los por meio de
perguntas hábeis, motivando-os bastante para que a descubram por si mesmos,
tenham o prazer de levantar o véu e encontrar por seu próprio esforço a verdade
que você tenta ensinar. Não
importa que pensem que descobriram a verdade sem sua ajuda. Isto não
deve incomodá-lo, pois o importante é fazê-los pensar e raciocinar; não se
concentre no muito que você sabe, mas em quão maravilhosa é a verdade.
Seu
triunfo ocorrerá no momento em que um de seus alunos vier contar-lhe da grande
descoberta que ele fez, e ao mesmo tempo você constatar que é exatamente o que
você queria que ele aprendesse. A
glória suprema de ensinar é fazer com que o aluno creia não que você ensina a
ele, mas que ele é que ensina a você. Que você estimule a atividade
intelectual de seu aluno, fazendo-o descobrir as verdades por si mesmo.
É
possível que você se lembre de um grande professor de sua juventude que ficou
de pé lá fora, humildemente, enquanto você entrava no novo castelo da verdade
através de uma porta que ele abrira em silêncio para você.
2. O professor tem que explicar as novas
verdades baseado em verdades que o aluno já compreendeu
Ensinar é explicar o novo baseando-se no
antigo, isto é, o desconhecido em relação ao conhecido; o
difícil em relação ao fácil; o obscuro em relação ao claro. Este é o único meio
de chegar-se ao conhecimento verdadeiro das coisas, e o melhor método para sua
compreensão; porque cada nova ideia tem de ser relacionada com o material que o
aluno já possui na mente.
Por
exemplo, pergunto à minha classe: "Quantos
já ouviram falar dos Chasidim?" Não recebo nenhuma resposta, apenas
olhares vazios, pois meus alunos não sabem se os Chasidim são um partido político, uma doença ou uma nova marca de
margarina. Este nome é algo muito novo para eles, e não desperta nenhuma imagem
em sua mente. Mas suponhamos que explico então que Chasidim é o nome de uma seita judia, na Europa Central, que
acredita na manifestação visível do Espírito Santo e ensina que a religião deve
ser mais vital e emocional que a que é praticada por outros judeus. Visto que
professa um ideal mais elevado, poderíamos descrevê-la como um movimento de
santidade na sinagoga judia.
Será
que agora os alunos compreendem quem são "os
Chasidim"? Sim. Por quê? Porque usei ideias e termos que conhecem.
Eles usaram suas próprias faculdades mentais para explicar a palavra. A palavra
estranha já não é "tão" estranha;
foi apresentada pelo professor por meio de dados conhecidos dos alunos. Neste
caso passamos do desconhecido ao conhecido.
Suponhamos que queremos dar a uma criança
de cinco anos uma ideia da forma da terra. Você acredita que a criança nos
compreenderia se disséssemos: "A
terra tem forma esférica"? Claro que não, porque essa
seria uma explicação muito abstrata para uma criança. Ela não compreenderia
nada. Ao contrário, se você lhe disser que a terra em que vivemos é uma bola
muito grande, redonda como uma laranja, é quase certo que ela vai captar a ideia,
porque você lhe ensinou algo novo, baseando-se em um conceito que ela já
conhece.
Resumindo,
o professor eficiente realizará sua tarefa baseando-se sempre em verdades e
imagens que seus alunos já conhecem, e as associará para ajudá-los a descobrir
novas verdades.
3. O professor deve levar em conta o
desenvolvimento mental de quem receberá a lição
Isto
é importante, para que você adapte o tema à capacidade do aluno, à sua idade e
experiência. Por exemplo, ao ensinar em uma classe de pequeninos, você jamais
deve falar de "regeneração",
ou de "arrebatamento antes da
tribulação", porque estes são termos abstratos que as criancinhas não
compreenderão. Você deve compartilhar as verdades, subentendidas nas palavras
teológicas, de uma forma que possam ser assimiladas pelas mentes tenras das
crianças, e que lhes atraia a atenção e o interesse.
Paulo,
o apóstolo, usou este princípio. Ele tinha apenas um evangelho para judeus e gentios;
mas estude seus sermões no livro de Atos, e você poderá notar" que ele
servia alimento divino de um modo aos judeus e de outro aos gentios. Certa vez
ele relacionou o evangelho com as doutrinas do Antigo Testamento, e os judeus
entenderam perfeitamente; e em outra ocasião relacionou o evangelho com o "livro da natureza" e os
gentios compreenderam também.
O
verdadeiro professor conhece e compreende as peculiaridades, os interesses e as
atividades que pertencem a cada período do crescimento e desenvolvimento de
seus alunos, e adapta seu ensino conforme o caso que se apresente, e de acordo
com o desenvolvimento moral e espiritual deles. É preciso ajustar o microfone
segundo a altura do orador. Se o orador anterior media 1,80 m e o próximo mede
1,60 m, o microfone é ajustado de acordo. Grande parte da habilidade do professor
consiste em saber adaptar os ensinos espirituais à altura espiritual de seus
alunos.
4. O professor fará o possível para
relacionar a nova lição à anterior
Para
associar ideias e conhecimentos na mente do aluno e promover um entrosamento
uniforme e perfeito dos ensinos e doutrinas da Bíblia, é de suma importância
que você relacione uma verdade com outra verdade, uma doutrina com outra
doutrina e um acontecimento com outro acontecimento.
Sua
tarefa de professor não é sobrecarregar o aluno de informações; ao contrário,
você, a cada domingo, terá de dirigir amorosamente a construção de um edifício
simétrico, o do caráter cristão, cujas bases descansam em verdades bíblicas. E
para fazer isto, é necessário que você possua as "radiografias" para que possa trabalhar inteligente e
eficazmente, obtendo os melhores resultados segundo o objetivo que você está
perseguindo.
Falando
em sentido figurado, se você, professor, quer conseguir pleno êxito no ensino,
é preciso que escale a montanha da oração e do estudo. No topo da montanha você
recebe o modelo divino para a edificação do tabernáculo do caráter e
conhecimento de cada aluno. Então, como Moisés, você ouve a voz de Deus
admoestando-o: "Vê que os faças
conforme o modelo que te foi mostrado no monte." Êxodo 25:40.
Permita-me
ilustrar este princípio supondo que a série de lições para o trimestre trate da
vida de Cristo. Você está pronto para começar sua lição. Em certo ponto da
introdução você dirá: "Hoje vamos estudar o Sermão do Monte, o qual nos
ensina as leis do reino. Olhemos por uns momentos para trás e vejamos o quanto
estamos adiantados na história do Rei. Em nossa primeira lição, consideramos a
descida à terra e a natureza celestial do Rei; na lição seguinte vimos como o
Rei foi recebido pelas diversas classes sociais; depois nos foi descrito o
grande profeta que era o anunciador do Rei; e mais tarde, na lição do batismo e
tentação de Jesus, fomos testemunhas da apresentação pública e da preparação
particular do Rei Jesus, antes de seu ativo ministério.
Em
resumo: Você, professor, tem de relacionar constantemente as partes das
Escrituras — comparando as histórias com as doutrinas, as profecias com seu
cumprimento, os livros com os livros, o Antigo Testamento como Novo, os tipos
com os arquétipos, para que o aluno aprenda que a Bíblia não é uma coleção de
textos e de fatos separados, estanques, mas uma unidade viva, cujas partes
estão relacionadas vitalmente umas com as outras, como os membros do corpo
humano. Vimos depois que o professor precisa aplicar continuamente a lição
ávida individual, e à coletiva, para que o aluno fique sabendo que todo ensino
bíblico está relacionado com os fatos de sua vida. Nenhum ensino bíblico é
teórico, sem aplicação prática.
Em
Cristo,
Edmilson
Santos
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