Quando mencionamos a palavra "ministério", provavelmente o que vem de imediato às nossas mentes é a figura de um pastor ordenado liderando uma igreja. Isso é o resultado da nossa visão clerical, que enxerga como capacitados e responsáveis para o ministério apenas as pessoas que tiveram formação oficial em algum seminário ou instituto bíblico. É claro que não estamos afirmando que todos os crentes têm as mesmas funções que os pastores, presbíteros, mestres, pois, obviamente, é bíblico o fato de que Deus chama pessoas especificamente para o ministério pastoral. Mas, precisamos entender que o termo "ministro" não se aplica apenas aos pastores. Biblicamente falando, todos os crentes são ministros, pois são servos de Deus. Vejamos em que consistem a natureza e p exercício do ministério cristão.
A NATUREZA DO MINISTÉRIO
CRISTÃO
Em nosso país, o termo
"ministro" designa uma posição de destaque e autoridade pública nas mais diversas áreas
de interesse nacional. Entretanto, biblicamente falando, o termo "ministro"
não designa uma posição de destaque pessoal ou comunitário dentro do reino de Deus. A palavra "ministério” conforme aparece no Novo Testamento deriva-se do
termo grego diakonia, que é traduzido como: "serviço, administração
ou ministração". O uso
originário da palavra ministrar, no NT, está ligado à tarefa de "servir à mesa” (At 6.2),
que nas casas das pessoas ricas era efetuada pelos escravos ou servos (dou-Ias
ou diakonos). No NT, os termos "ministro" ou
"servo" foram aplicados a pessoas diferentes e até mesmo foram usados
por Jesus para falar de sua missão (Mc 10.45). Portanto,
num sentido abrangente, todos os cristãos são ministros ou diáconos,
porque todos são chamados ao serviço e ao ministério do reino de Deus e
todos temos áreas específicas de atuação, conforme os dons espirituais que Deus
nos deu.
O EXERCÍCIO DO MINISTÉRIO
A PARTIR DO EXEMPLO DE CRISTO
Para cada crente, Jesus Cristo é o maior
referencial ser seguido. Sabemos que existem certas
qualidades de Jesus que são impossíveis de ser imitadas (p.ex.,aquelas
que dizem respeito aos seus atributos divinos); mas, nos outros aspectos, Jesus
é o modelo de servo e ministro a ser seguido por todos nós. Assim pensavam os
apóstolos Paulo e Pedro (1Co 11.1;Fp 2.5-8; 1Pe 2.21). Podemos, portanto, ter a
certeza de que, no que diz respeito ao ministério, temos muito a aprender com o
exemplo de Jesus.
1. Com Jesus aprendemos a necessidade do
ministério cristão
O
ministério de Jesus era parte do desígnio eterno de Deus (1Pe 1.18-20). Foi
motivado por seu amor à humanidade (Jo 3.16,17). A vinda de Jesus a este mundo
se propunha ao resgate existencial e espiritual dos seres humanos, por isso, Jesus
viu a si mesmo como um servo (Mc 10.45). O fato de Jesus encarar a si mesmo como
servo aponta para a imagem messiânica do "Servo do Senhor”, presente nas
profecias do Antigo Testamento (AT), especialmente no livro de Isaías. Jesus, enquanto ministro/
servo, veio em atendimento às necessidades do mundo, e o seu ministério
teve como característica maior a compaixão pelos homens e mulheres errantes e
necessitados de alguém que se importasse com eles (Mt 9.35-38). Ser ministro/ servo de Cristo é ser
igualmente tocado pelas necessidades humanas e, à semelhança de Jesus,
envolver-se ativamente neste trabalho resgatador e solidário. Nada mais distante de Jesus do que uma
fé alheia ao sofrimento existencial e espiritual daqueles que estão ao nosso
redor. Ministrar é se importar com a dor do mundo, é sentir o coração doer com a
dor que machuca o coração de Deus.
2. Com Jesus
aprendemos a Importância de ministrar não apenas "ao" mundo, mas
também "no" mundo
A palavra "mundo" (kosmos,
em grego) aparece no NT basicamente com três diferentes significados: (1) o universo das coisas criadas (Jo
17.24; Hb 1.2); (2) a humanidade (Jo
3.16,17; 1Jo 2.2); (3) o mundanismo,
ou seja, a presente ordem pecaminosa que se opor a Deus ( 1Jo 2.15, 16).
O crente deve cuidar do mundo enquanto
natureza criada por Deus (ecologia engajada) deve ministrar às pessoas que
estão no mundo (evangelismo, hospitalidade, socorro etc.), mas deve evitar o
comprometimento com o mundanismo (marcado pela tríade: soberba, ganância e
imoralidade). A igreja de Cristo, que somos nós, está no mundo (natureza), convive
com o mundo (pessoas) e se opõe ao mundo (sistema pecaminoso). Quando
pensamos na palavra "igreja' (ekklesia, no grego) devemos lembrar
que ela designa aqueles que foram chamados a renunciar uma vida meramente
materialista e desinteressada a fim de, pelo poder capacitador do Espírito
Santo, serem enviados a um mundo em crise (Jo 17.18). Conforme lemos nos Evangelhos, Jesus nunca ensinou o ascetismo ou a fuga do mundo.
O cristão é "sal da terra e
luz do mundo”, por estar "no" mundo (Mt 5.13-16). É Um cristianismo
in loco (no local onde vivemos). Uma compreensão equivocada dessa questão
tem levado muitos crentes a se afastarem dos não-crentes para não se
"contaminarem". Mas, não foi assim que Jesus procedeu nem ensinou. O cristão não deve fugir daqueles que precisam dele. Deve
fugir do pecado, mas não do pecador. No cristianismo de Jesus não há lugar para
a fuga ascética como nos mosteiros a partir do século 3" d.C., pois o
ministério cristão é "no" mundo. Cristãos insensíveis para com
o próximo e esquecidos da dor do outro não se constituem em bons representantes
daquele que "não veio para ser servido) mas para servir e dar a sua
vida em resgate de muitos" (Mc 10.45).
3. Com Jesus
aprendemos sobre as qualidades fundamentais para o
exercício do
ministério cristão
Ministrar no mundo em crise requer algumas
qualidades por parte do ministro/servo de Cristo, pois, sem elas, o ministério cristão
torna-se uma mera expressão religiosa vazia e sem vida:
(1) Disponibilidade.
Na vida do cristão deve haver aquela
mesma prontidão para o serviço que houve no profeta Isaías. "Eis-me
aqui, Senhor; envia-me a mim" (Is 6.8). Por amor a Deus, o crente deve
estar pronto para servir. É o amor a Cristo que nos faz priorizar os interesses
do seu reino (Mt 6.33). Agradar ao Senhor passa a ser o nosso alvo de vida e nossa
razão de viver. Existem tantas pessoas ocupadas com brigas, mexericos e opiniões
pessoais dentro das igrejas, mas no verdadeiro trabalho do reino os
trabalhadores ainda são poucos. Devemos estar dispostos para ministrar, porque um
dia haveremos de apresentar a Deus os frutos daquilo que fizemos para ele (1Co
3.10-15; 2Co 5.8-10).
(2) Humildade.
Jesus poderia ter ministrado de forma
arrogante e soberba por ser o Filho de Deus, mas ele não o fez. Pelo contrário,
foi humilde até mesmo na hora da morte (Fp 2.5-8). Assim deve ser o cristão.
Ele é servo de Deus devido à graça de Deus. Na igreja existem diferentes papéis
a serem desempenhados (pastores, educadores, musicistas, diáconos, líderes, professores
etc.), mas não deve haver qualquer vestígio de soberba ou superioridade entre
nós (Rm 12.3). Todos fomos salvos e incorporados no ministério do reino
unicamente por causa da graça de Deus (Ef 2.8-10). Portanto, desçamos do
"pedestal" e afastemos de nosso coração o orgulho. Mantenhamos a
humildade.
(3) Altruísmo.
A vida de Jesus foi caracterizada pelo
altruísmo (oposto ao egoísmo). Da mesma forma, como cristãos, devemos viver uma
vida marcada pelo cuidado com aqueles com quem convivemos. Somos como Abraão,
chamados a ser bênção para aqueles que nos cercam (Gn 12.1-3). Vivemos numa época
em que muitos enfatizam o TER e esquecem de SER. Querem bênçãos, mas poucos
estão preocupados em ser bênçãos para os outros e para o mundo.
Conclusão
Ministrar/servir em nome de Deus é o
enorme privilégio que nos foi confiado. Muitos sonham no que aconteceria se
fossem missionários, evangelistas ou pastores, vivendo, às vezes, um cristianismo
de hipóteses. Não abdiquemos dos nossos sonhos, mas não nos esqueçamos de
florescer onde estivermos plantados. Ministrar em nome de Deus àqueles que nos
cercam é privilégio e responsabilidade confiados por Deus a cada um de nós.
Sejamos fiéis à missão que ele nos deu.
Em Cristo,
Edmilson Santos
ESta lição é de grande valor para nós, fazendo-nos refletir que uma vez sendo escolhidos por Deus cada um de nós podemos sim desempenhar o nosso papel independente de sermos pessoas humildes ou não.Graças ao nossso Deus que Ele não faz acepção de pessoas e não podemos ter desculpas, cruzarmos os braços fazendo como aquele servo que escondeu seus talentos.
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